Tô enjoada. Não aguento mais uns de mim. Sou qualquer coisa pra quase todo dia do mês e às vezes é aquela agonia: num dia muito Puta e no outro menos Santa. Durmo Moça, acordo Psicólogo e se madrugo, no corredor, me cruzo Socióloga.
É Bate e Assopra, Xinga e
Chora, uma Escolha que demora e depois vira Pergunta. Se aparece qualquer Assunto
pra Discussão entra em cena Pesquisadora, Lutadora de tatame, Escritor,
Leitora, Jovem- velha, alguém Infanto-saudosista, mas com uma total Preguiça de
quem vive um adulto infantilizado.
Se não tomo cuidado a Feminista,
em vias de abandonar a Lógica, fica Neurótica, por um triz de meter a mão ou
adotar aquele Eu Canastrão. Bem assim, meio sem jeito, meio sem gênero, um
tanto torto e mais outro também.
É uma gente meio fora de
lugar, mas curioso que às vezes, mesmo Penoso, me faz gozar de mim. É um
deslocamento não muito confortável, mas o Sádico faz questão de incentivar os
outros só pra ver quantos D’eus cabem em mim.
O Depressivo está sempre à
espreita. O pior é que esse maldito vive acompanhado da Ansiedade. Um lamenta e
a outra sente pressa, decide pelo impulso. Que bela combinação! O casal
ejaculação precoce. Outro dia ouvi uma conversa estranha sobre presente e
futuro entre os dois. Fiquei Pensativa. Ah,
essa parte de mim... Quase uma Cafetina.
Arranja tudo, aceita esse todo mundo em orgia, abraça os conflitos e rindo diz:
- Entre a unidade e a
multiplicidade, aqui é a Dialética quem mais goza.
Texto produzido durante o ateliê de Contos e Crônicas coordenado por Luiz Bras na Oficina da Palavra Casa Mario de Andrade.