Quando nos encontramos eu ainda era uma jovem garota auto-sodomizada pela castidade e você, experiente, se mostrou o grande masturbador. Com mãos precisas e olhos fixos tirou de mim o preto e branco, trouxe novos tons e possibilidades. Senti-me expandida em infinito com braços que envolviam e pernas que titubeavam. Lembro-me bem de toda a situação! Às vezes ainda aparece como o sonho, que ressoa mesmo no silêncio, mas é somente a persistência da memória que me puxa, que lhe trás nesse Jogo Lúgubre, tão meu e de vocabulário visual e pedaços de corpos, onde os principais objetivos são as acomodações dos desejos.
Trouxe você pra dentro de mim, fiz das suas cores parte da minha essência e, não importa se desperta ou em sono, tudo o que remete a nós resulta em nascimento dos desejos líquidos numa paisagem de perspectiva estendida e movimentação orgânica. Eu violoncelo e você artista hábil. Mas escorremos por entre nossas mãos e o nosso momento sublime também foi nossa crucificação.
Fugimos de nós, pulamos o tempo de casal com as cabeças cheias de nuvens e caímos... Um segundo antes de despertar. Nossas carícias foram premonição da guerra civil. Com os membros desarticulados você apareceu atômico enquanto eu, mesmo despedaçada, atrevida, fui de Gala. Acabamos corporificando um rosto de guerra em nossa polirritmia e dancei com você, talvez surda aos ritmos, e vivenciamos outra organização dos tons, do tempo, dos ruídos e das pausas. Naquele cosmo distinto, enquanto eu "Se abra!" você... Dalí.
E tudo, entre mãos e bocas, um lastro indefinido, continua ressoando em mim.
Texto produzido durante o ateliê de Contos e Crônicas coordenado por Luiz Bras na Oficina da Palavra Casa Mario de Andrade.
Texto produzido durante o ateliê de Contos e Crônicas coordenado por Luiz Bras na Oficina da Palavra Casa Mario de Andrade.
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